No decorrer dos últimos meses fomos forçados a nos adaptar a novos hábitos de convívio presencial, a frequentar mais os meios virtuais de relacionamento e a buscar novas rotinas para o exercício profissional, qualquer que seja a área de trabalho.

      Aos médicos coube e ainda continua em curso a discussão sobre o exercício de sua arte à distância, principalmente quando o principal jargão relacionado à Medicina pode ser, salvo melhor juízo, que “a clínica é soberana!”.

      Por muitos séculos, a presença do médico junto ao paciente escutando-o e examinando-o foi o único meio diagnóstico aceitável como conduta ética e correta para estabelecer uma alternativa terapêutica. Na maioria das vezes, era no próprio domicílio do adoentado que o profissional exercia seu mister, daí resultando uma relação de confiança importantíssimo para o conceito da Medicina ao longo da história, como uma profissão onde o humanismo e a proximidade entre médico e paciente sempre foram tidos, pelas diversas sociedades, como símbolos maiores de dedicação e respeito.

      O avanço tecnológico tornou a profissão cada vez mais científica e sofisticada, com consultórios e hospitais cada vez mais instrumentalizados com a tecnologia disponível, algumas vezes levando a crer que apenas os equipamentos seriam suficientes e necessários para fazer Medicina de bom nível. Essa imagem, infelizmente, parece imperar na mente de gestores de medicina suplementar ou de autoridades públicas, ao ponto de, alguma vez, achar que bastaria um agente de saúde para apresentar o paciente ao médico distante ou a uma máquina. O médico generalista, que evita e soluciona a maioria dos problemas, seria prescindível; bastaria o “superespecialista”, que não precisaria, inclusive, tocar no paciente.

      Infelizmente, boa parte da população, principalmente com a pandemia em curso, comunga da ideia repassada de que a telemedicina seria a panaceia, a solução para todos os problemas, mesmo em um país onde não há a inclusão digital de todo o território e onde o analfabetismo funcional ainda impera.

      As urgências e todos os serviços de pronto-atendimento se mostram superlotados, com pessoas fora delas ou deitadas nos corredores, evidenciando a desigualdade e a falta de acesso a atendimento mais digno pela maior parte da população.

      Esse atendimento, que sobrecarrega o médico dos postos de urgência, expõe os profissionais de saúde a um risco desmedido que somente o atendimento presencial pode ocasionar.

      Mais uma vez, manifesto meu respeito e reconhecimento aos mais de cinquenta médicos do Pará que sucumbiram à COVID-19, a maioria deles por ter estado em contato direto com o paciente, tentando dar-lhe conforto e buscando sua alta por melhora ou cura. A telemedicina, solução para alguns gestores e autoridades públicas, com o médico distante do paciente, ainda passa ao largo das reais necessidades e do real exercício do labor médico na atual conjuntura assistencial.

MANOEL WALBER DOS SANTOS SILVA
Presidente do CRM-PA

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