José Maria de Castro Abreu Júnior[1]
Aristoteles Gulliod de Miranda[2]
Foi a primeira sociedade cientifica organizada no Pará. Após as propostas iniciais para a fundação, sua instalação aconteceu em 1º de fevereiro de 1898. Apesar do seu nome, a nova instituição congregava, além de médicos e farmacêuticos, profissionais de outras áreas do conhecimento como dentistas, químicos, veterinários e naturalistas.
A ideia de fundação da agremiação cientifica deve-se ao médico José Paes de Carvalho, naquela ocasião ocupando o cargo de governador do estado do Pará. Este mesmo governador e médico editou uma lei, em 1899, criando as faculdades de Direito, Medicina e Engenharia. Referida lei não se efetivou na prática, atrasando em alguns anos o surgimento dos cursos superiores no Pará, considerando que somente em 1902 seria criada a Faculdade de Direito.
A primeira diretoria da Sociedade Médico-Farmacêutica tinha o Dr. Américo Santa Rosa como presidente; e o Dr. Antonino Emiliano de Souza Castro – o barão de Anajás -, pai do futuro governador e homônimo deste, como vice. Paes de Carvalho foi eleito sócio benemérito e presidente de honra da nova agremiação. Já no período republicano, o Liceu Paraense, criado em 1841, passaria a se chamar Colégio Paes de Carvalho, em merecida homenagem ao ex-governador. O barão de Anajás, se tornaria figura importante mais tarde na História da Medicina e da Educação no Pará, ao participar da fundação das três primeiras sociedades médicas do Pará e de ter sido o primeiro diretor da Faculdade de Medicina, fundada em 1919.
As reuniões da Sociedade eram realizadas mensalmente, constando de discussão de casos clínicos difíceis ou raros, bem como teses, trabalhos, memoriais, ou seja, temas médicos diversificados e que fomentassem discussão. De um número inicial de 24 médicos presentes à primeira reunião, a agremiação chegou a contabilizar 67 médicos, 24 farmacêuticos, seis cirurgiões dentistas, dois químicos, um veterinário e um naturalista como sócios.
Após o esperado interesse inicial de seus membros, a frequência às reuniões foi decrescendo, sendo observada uma ausência cada vez maior dos sócios não médicos, possivelmente devido aos temas abordados serem muito específicos e de interesse restrito ao grupo majoritário, isto é, à medicina. Tanto assim que, nas comemorações pelo terceiro ano de fundação, em 1901, já se falava em soerguimento da Sociedade, com apresentação de propostas audaciosas como organização de congressos científicos, fundação de policlínicas e sanatórios e a criação de uma escola de Farmácia e de Enfermeiros, projetos que jamais saíram do plano das ideias. Interessante que, embora sendo uma agremiação constituída majoritariamente por médicos, não se falou na criação de uma faculdade de medicina, nem sequer foi lembrada a existência da lei assinada em 1899 por Paes de Carvalho, presidente de honra e sócio idealizador da instituição cientifica. Vale lembrar que em 1901, no Brasil, existiam apenas as faculdades de medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, fundadas em 1808 com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, e a então recém-criada Faculdade de Medicina de Porto Alegre, de 1897.
Em que pese o descompasso entre ideias, projetos e ações, em seu curto período de efetivo funcionamento, a Sociedade Medico-Farmacêutica deixou mais uma contribuição à medicina paraense: a criação de seu órgão de divulgação oficial, a revista Pará- Médico, sendo o primeiro número publicado em novembro de 1900. Com periodicidade mensal, a revista surgiu com a proposta de divulgar o conhecimento científico, tornando-o acessível à coletividade, contribuindo para as aspirações de progresso e civilização da sociedade paraense.
A Pará-Médico foi editada até abril de 1902, chegando a 13 números. Os trabalhos publicados focavam assuntos bastante diversificados, com ênfase à higiene pública e às doenças endêmicas no período, como febre amarela, malária, tuberculose, além de apresentar dados epidemiológicos a partir do movimento dos hospitais existentes em Belém. Desaparecida a revista juntamente com a agremiação a que pertencia, seu nome seria mantido nos órgãos de divulgação das sociedades cientificas posteriores.
A Sociedade Medico-Farmacêutica representou um grupo muito heterogêneo de participantes, agregando diferentes categorias profissionais representantes de gerações diferentes, em que seguidores das teorias humorais, arcaicas do ponto de vista científico, conflitavam com os defensores dos novos tempos da medicina, descortinados a partir dos postulados microbianos de Pasteur.
Ainda que tenha tido duração efêmera, a Sociedade Médico-Farmacêutica do Pará deve sempre ser considerada nas pesquisas da historiografia da medicina e da Saúde no Pará por seu pioneirismo como entidade científica.
Referências:
MIRANDA, Aristoteles Guilliod de; ABREU JUNIOR, José Maria de Castro. Instituições e personagens: histórias da Medicina no Pará. Belém: Paka-Tatu, 2019.
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[1] Médico patologista. Professor de Patologia e de História da Medicina da Faculdade de Medicina da UFPA. Doutor em História pela UFPA. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará
[2] Médico cirurgião vascular. Doutor em Biologia e Epidemiologia pela UFPA. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará.